Ikigai: O que é e qual a importância dessa filosofia para pessoas e marcas

Ikigai é uma filosofia japonesa que pode ser definida como a paixão e propósito que cada indivíduo guarda dentro de si. O propósito também é percebido em marcas e organizações que, cada vez mais, precisam entregar valor e confiança ao seu público.

Jonas de Bem
9 min readMar 6, 2023
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Foto: Michał Skarbiński

A primeira vez que me deparei com o termo Ikigai já faz um bom tempo. Navegando por playlists de Lo-fi, bem no início em que o gênero musical começou a se popularizar no YouTube, cheguei até um vídeo e lá estava a palavra ocupando o centro da tela junto a um trecho de um anime.

Aproveita para dar um play nesse mix e siga a leitura!

Fiquei curioso com o conceito e, logo, busquei o termo na internet para entender melhor. Descobri que Ikigai é o propósito que cada pessoa carrega; Aquilo em especial que faz seus olhos brilharem. O motivo de encontrar motivação ou sentido, mesmo nos piores momentos da vida.

Essa descoberta me impactou. Guardei a palavra para mim. Nunca a esqueci. Comecei a pensar sobre propósito pela primeira vez. Será que já encontrei o meu? Se sim, qual?

Para minha surpresa, compreendi que propósito não é apenas importante para que um indivíduo possa se sentir realizado com algo que ama fazer. É isso também, mas é mais.

Propósito é algo amplo que pode permear não apenas a vida de um indivíduo, mas como também de organizações e marcas.

Assim, o objetivo desse texto é explicar a importância da filosofia Ikigai, e como a manifestação do propósito pode gerar um impacto positivo enorme na vida das pessoas, sem deixar de analisar como empresas e marcas são capazes, a partir de um propósito bem definido, beneficiar não somente seus clientes, como também a sociedade.

Ikigai e propósito de vida

No livro Ikigai: Os segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz, os autores Héctor García e Francesc definem Ikigai como “a razão pela qual nos levantamos pela manhã”. Tal definição veio a partir de um estudo com base nos habitantes centenários da província de Okinawa (sul do Japão).

Os habitantes de Okinawa conseguem chegar aos 100 anos de idade por certos fatores, como alimentação saudável, relações de amizade, atividade física e, é claro, por viverem sua vida com um propósito muito claro.

Sem falar também que Okinawa faz parte das Blue Zones (Zonas azuis) que são locais ao redor do mundo com altas taxas de populações longevas por esses e outros motivos.

Encontrar seu Ikigai ou propósito não é algo tão fácil, mas não precisa ser complexo. Uma religião, um esporte, um hobbie, um trabalho, por exemplo, podem ser propósitos que dão sentido a uma vida inteira.

Além disso, não tem porque limitar-se a um único propósito, pois também é super normal encontrar mais de uma coisa que você ame fazer.

Talvez seja uma atividade que você pratica desde a infância e continua até os dias atuais, como por exemplo, andar de bicicleta. E, de repente, você descobre que sempre gostou de surf, mas nunca ganhou uma prancha. Ainda sim, você possui memórias afetivas com isso e acha que deve dar uma chance a si mesmo.

Isso não significa que você deve deixar de andar de bicicleta para surfar. Você apenas encontrou algo que ama tanto quanto sua atividade anterior. Pode parecer uma parábola boba, mas eu volto a insistir que propósito não é algo tão complexo de se encontrar.

Também, não é por essa razão que será fácil alimentar um propósito, pois dele podem nascer múltiplos sonhos, dificuldades e até sacrifícios.

Como descobrir seu Ikigai

Descobrir seu Ikigai muitas vezes envolve o bom e velho autoconhecimento. Em vista disso, trouxe abaixo, algumas sugestões que podem funcionar para essa descoberta:

  • Faça terapia - Te ajuda a desenvolver pensamentos, conversar sobre traumas. É um espaço ideal para se conhecer e, logo, compreender seus limites, onde você quer chegar, o que gosta ou não gosta de fazer. Existem abordagens da psicologia que são focadas em descobrir sentido, como a logoterapia.
  • Reflita - Comece respondendo perguntas básicas. Quem é você? Que pessoa você quer ser? Vale a pena deixar suas paixões de lado por preconceitos da sociedade? Pense nas diferentes fases da sua vida para elaborar respostas que façam mais sentido.
  • Planeje-se - Se você já percebeu os sinais do que pode ser seu propósito, porém ainda não deu um start inicial, faça um planejamento do que é preciso fazer para começar.
  • Alinhe suas expectativas - Ikigai é uma paixão que, ao ser descoberta, deve ser cultivada e nutrida. Todavia, é preciso ter cuidado para que esse propósito não se transforme em uma fonte de frustração. Em outros termos, se seu propósito está muito acima do seu contexto de vida , tente adaptá-lo ao melhor cenário em que você está.
  • Inspire-se no diagrama de Marc Winn - O autor e palestrante americano, Marc Winn, desenvolveu um diagrama que serve como uma espécie de teste para auxiliar na descoberta do Ikigai. Assim, você pode pensar em questões como “o que você ama”, “aquilo em que você é bom”, “do que o mundo precisa”, e por aí vai.

Propósito profissional x pessoal

Quando pensamos em Ikigai e propósito, devemos entender que ele não se manifesta apenas no campo pessoal, mas também na área profissional. Por isso, não é incomum que algumas pessoas encontrem em seus trabalhos um senso de plenitude e realização antes mesmo de visualizarem propósitos na sua vida pessoal.

Ainda assim, suponho que exista uma certa confusão quando realizações pessoais se misturam às profissionais. Isto é, os hobbies que você ama profundamente fazer, não necessariamente, devem se transformar em uma atividade que gere renda.

O motivo disso é simples: Sua paixão pode se tornar uma frustração e perder totalmente o sentido.

Eu gosto muito da newsletter do Braga e, nessa edição, ele compartilha que nem todo o trabalho precisa envolver dinheiro, inclusive sua própria news, que é algo que ele ama fazer.

A moral da história é delimitar os propósitos da sua vida pessoal e os da sua vida profissional, pois nem sempre unir essas áreas dará certo.

Por fim, para complementarmos o que foi dito, trago um trecho de uma participação do ator e diretor Jonah Hill para o canal do Youtube da GQ.

Hill conta que, perto dos seus 30 anos, começou a ir em busca de hobbies que não tivessem relação com sua carreira no cinema.

Como um ator bem sucedido que desde cedo já fazia aparições em comédias até alcançar indicações para o Oscar e, atualmente, se aventura como diretor, podemos considerar que o propósito de Hill está em sua profissão. Mesmo assim, ele percebe que apenas o propósito profissional não é o suficiente e pode até tornar-se perigoso.

Por conta disso, Hill explorou outras atividades, tais como: Jiu-jítsu e Surf e, dessa maneira, desenvolveu novos propósitos. Tá aí um bom exemplo de equilíbrio.

Vídeo completo da entrevista de Jonah Hill ao canal da GQ no YouTube

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Propósitos superficiais

Acho importante a discussão sobre os riscos de alimentarmos propósitos superficiais e, para isso, irei me basear no podcast Coemergência e seu episódio O bem-estar como habilidade | Propósito.

Extraindo a conversa do podcast, os participantes do programa defendem a ideia de que o propósito, como um dos pilares do bem-estar na vida, possui uma noção de entendimento muito superficial e individualizada.

Dito de outra maneira, aprendemos a ir em busca de propósitos rasos que, quando alcançados, não dão conta de suprir os momentos de dor da vida ou não atingem aquela felicidade prometida.

Tais propósitos são definidos pelos membros do podcasts como externos. O motivo desses propósitos serem superficiais é pelo fato de não oferecerem significados reais que melhorem nossas vidas. Um propósito concentrado apenas em cargo, numa profissão, em um objeto ou posse, entram nessa categoria.

Vale lembrar que não existe problema em encontrar propósito na sua vida profissional, como vimos anteriormente. Porém, existem tantas outras formas que vão além do trabalho e que, por muitas vezes são ignoradas. Um trabalho não é algo permanente e colocar todas suas energias nessa área da vida é muito arriscado.

Os propósitos internos são mais profundos e realmente trazem sentido em momentos de acalento. A mesa do programa argumenta que esse segundo propósito raramente é estimulado pela sociedade.

Na visão do podcast, outra razão pela qual alimentamos propósitos falsos ou superficiais está em imaginar o propósito em um cenário muito distante, depositando o sentido da vida em um futuro incerto ao invés de buscar propósito no momento presente.

Exemplo: Minha vida só terá propósito e sentido quando alcançar o cargo x.

Viver com a mente voltada para o futuro acaba gerando muita frustração e ansiedade em nossas vidas, pois, como corrobora o programa, o futuro atrapalha na descoberta por um propósito que deveria estar sendo trabalhado no presente, no agora.

Para fugir dos propósitos externos e se aproximar dos propósitos internos, os quais dão real sentido para a vida, o programa sugere ao ouvinte tentar responder questões como exemplo:

  • Como eu quero viver este momento, este exato momento?
  • Que qualidades quero oferecer para mim mesmo e para os outros neste exato momento?

Tais perguntas buscam nos aproximar do verdadeiro sentido da vida, fugindo de um propósito sem valor.

Marcas e propósito

Agora que já vimos a questão do propósito na vida das pessoas podemos ir além e falar sobre como o propósito existe até em outros campos que nem fazíamos ideia.

Não são apenas pessoas que se beneficiam do propósito em seu cotidiano. Empresas também estão fazendo isso. Portanto, a partir de agora iremos nos concentrar em entender a ligação entre propósito e marcas!

A HubSpot define o propósito de marca como a essência de uma marca. Quer dizer, o porquê de sua existência.

Desde o icônico TED do palestrante Simon Sinek, há mais de uma década atrás, o propósito das marcas começou a se tornar bastante debatido a partir de uma metodologia simples e eficiente. O Golden Circle ou Círculo Dourado.

O círculo se baseia em 3 questões básicas que são: O quê, como e porquê, sendo a última questão a mais fundamental.

Segundo o palestrante são poucos os líderes e organizações que possuem um propósito preciso (porquê). Para Sinek, corporações com propósito são as que mais se diferenciam das outras.

Conforme esse raciocínio, consumidores estão optando por realizarem compras em uma empresa que possui crenças, ideais e valores semelhantes aos seus.

Vídeo completo da palestra de Simon Sinek ao TED

Não por acaso, as marcas são cada vez mais cobradas pelos seus consumidores quando cometem erros, sejam eles anúncios que ofendem um público x, associações com outras empresas que não dividem a mesma cultura e assim por diante.

Em uma sociedade que defende e luta por mudanças estruturais espera-se, mais do que nunca, um posicionamento de marcas e empresas que estão inseridas nessa mesma sociedade e que fazem parte, tanto dos problemas, quanto das soluções.

Exemplos de marcas com propósito

Para ilustrar melhor o propósito presente nas marcas veremos abaixo marcas famosas que mesmo sendo de diferentes segmentos de mercado, sabem exatamente a razão de existirem e, não à toa, seguem encantando um enorme público.

  • Apple - Uma das empresas de tecnologia mais bem sucedidas do mundo. Um Macbook ou um Iphone representam status, qualidade, durabilidade, etc. Apesar disso, seu sucesso não advém apenas das vantagens de seus produtos, mas também de um propósito com 3 fundamentos essenciais: inovação, design e criatividade.
  • Vans - A marca familiar que surgiu na Califórnia em 1966, representa comunidades de esportes como Skate, Bmx, Snowboard, Surf. Porém, a Vans se difundiu para um público muito amplo e diverso que, não necessariamente, pratica tais esportes. E qual o propósito da Vans? Propagar a expressão criativa do seu público.
  • NaturaO propósito da Natura está em ser uma empresa que promove o bem-estar para as pessoas, sem deixar de lado sua luta por um mundo mais sustentável e igualitário. A marca já recebeu diversos prêmios pela realização de ações sustentáveis.

Conclusão

Ikigai contribui para a longevidade de povos do Japão e está fortemente associada à abordagem clínica da Logoterapia. Essa filosofia vai ao total encontro com o tema propósito que é um pilar extremamente necessário para agregar sentido à vida das pessoas.

Descobrir um propósito provoca muitos benefícios, tais como diminuição no risco de doenças e transtornos mentais, resiliência, e bem-estar.

O propósito é algo tão vasto que transita até entre empresas e marcas que buscam com seus propósitos inspirar a vida das pessoas e beneficiar o mundo, seja no enfrentamento de pandemias, luta por causas sociais ou na preservação do meio ambiente

Segundo o relatório global Edelman Trust Barometer 2021: Confiança, O Novo Capital da Marca, 72% dos brasileiros sentem-se atraídos por marcas que contribuem com melhorias para o mundo.

Ainda focando no Brasil, o relatório apresenta que 49% da população brasileira acredita que marcas deveriam refletir valores da sociedade.

No contexto social em que vivemos, marcado por inúmeras injustiças, a busca por propósitos viabiliza mudanças significativas: por um mundo com menos propósitos artificiais e marcas com propósitos coerentes que façam a diferença para o planeta.

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Written by Jonas de Bem

Jornalista e Redator de Conteúdo

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